ESCRIBAS DE MUNDOS
Walter Ramos de Arruda
“A literatura é um dos caminhos mais tristes que levam a tudo”. (André Breton)
Que escrever seja um dos maiores feitos da humanidade, senão o maior, não resta dúvida. A tradição judaico-cristã, para citar uma grande tradição, diz que o próprio 'Deus' escreveu os mandamentos e legou todo um patrimônio aos homens. Registro de um feito divino, portanto.
Talvez por isto, mal comparando, haja academias de letras ao longo do planeta. Onde escritores reúnem-se em colóquios e chamam-se "imortais". Afinal, os homens inventam romances, registram e cometem poesia, contam em versões diversas como seriam os tantos dramas vividos a ponto de parecerem pequenos deuses; É claro que deuses minúsculos...
Mergulham em outros mundos e reinventam e redigem, em linhas simples, o que no mundo real existe e ocorre. Simulam, em várias mãos, o que ‘Deus’ diariamente escreve naquele seu estilo único de talento inconfundível, o: “em linhas tortas”.
Cada vez mais, diga-se de passagem, com a intervenção das mãos dos homens, que sorrateiramente aos quatro cantos se apresentam enquanto supostos co-autores sobre este ou aquele feito na condução da narrativa humana.
Vejam as descobertas genéticas que impulsionam certas mentes na direção da clonagem de homens e mulheres, e o surgimento de novos personagens reeditando ditaduras, impondo a implantação de sociedades planejadas ao longo do planeta. Que tarde ao máximo o final destes episódios!
Penso neste fim de dia, após uma noite pesada, num olhar em desacordo com os feitos dos homens - ameaça de bombas em aviões de civis, guerras sem trégua -, em escrever algo com desfecho ameno. Tipo: ‘como seria se assim não fosse’ e recordo o término de uma história antiga, à moda das aventuras erradias de um cavaleiro andante, como se resignadamente o herói lamentando desaventos mirasse o futuro e dissesse a si mesmo:
- Deixa estar. Há literatura. À literatura.
A Pose das Cinzas
No jubileu dos tempos, notívagos gritos transbordam a Cidade das Pedras Cantantes. Vozes rachadas, loquazes, emolduram semblantes inermes. Do nada a dizer, o medo, como fosse prisão. Na verbo-sangria o parapeito que oculta o cativeiro; dissimula do espírito a liberdade entre homens que debatem-se como vermes nos salões de açúcar decadentes, e espaços comezinhos massapés. Frações mínimas de idéias fumam rarefeitas à estratosfera no meio da algaravia. Enquanto platéias imberbes aplaudem; sem saber ao menos o quê.
Walter Ramos de Arruda (1976), nasceu em Recife, é graduado em Letras. Faz mestrado em antropologia. Vive escrevendo.
http://ramosdearruda.blogspot.com/
sábado, 12 de maio de 2007
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